quarta-feira, 5 de maio de 2010

A IGREJA DA IDADE MÍDIA



Um modelo modernoso de igreja alternativa, viável e rentável, é o do franchise da fé. Trata-se de modelo facilmente identificável facilmente, haja vista a frequência com que aparece nos meios de comunicação de massa, e a habilidade com que neles se move explorando o agressivo marketing apelidado de gospel.
GOSPEL QUE EU GOSTO
O termo gospel utilizado pelas igrejas da idade da mídia não deve ser confundido, nem identificado, com o estilo musical homônimo de origem afro-norte-americana do final do século XIX. Este último nasceu como forma de resistência de uma cultura oprimida que tentava sobreviver sob uma cultura racista, classista, cruel e intolerante.
O gospel tupiniquim é a adesão a um anglicismo novelístico que gerou um subdialeto gospel-evangélico bastante elástico que comporta muita coisa no campo musical, que vai do rap ao rock passando pelo pop e com algumas incursões, menos frequentes, nos estilos verde-amarelos do tipo baião, samba, sertanejo e assim por diante.
Gospel não é um ritmo ou estilo musical. É uma marca como Coca-cola ou Bombril, com forte apelo comercial.
O NIVELAMENTO POR BAIXO POR BAIXO PROMOVIDO PELOS LEIGOS
Com a lacuna cultural da formação do brasileiro, em geral, e a lacuna teológica na
catequese do evangélico, em particular, a demanda por esse estilo eclesial e musical cresceu muito.
A rigor, tais músicas gospel carecem de valor artístico-estético, bíblico-teológico e
litúrgico-pastoral. Mas o exigente público não o é nesses itens. Sua exigência diz
respeito não ao sentido da fé, mas à utilidade da religião. Se ela me ajuda na
experiência catártica, se ele corresponde aos meus anseios por prosperidade, se ela aplaca minha consciência transferindo minha culpa para um ser demoníaco, e se, ao falar de um Deus vitorioso e guerreiro satisfaz meus desejos de vingança sublimados, então essa é a minha religião ideal.
O NIVELAMENTO POR BAIXO PROMOVIDO PELO CLERO
Os teólogos, por seu turno, deveriam ir um pouco além e identificar na história do
dogma e no registro evangélico as muitas vezes frustrantes venturas e desventuras dos seguidores daquele que, quando na terra, não tinha “onde reclinar a cabeça” (Lc 9:58).
Mas explicar o amor aos inimigos, o chorar com os que choram, o sofrimento por causa de Cristo, a cruz que cada discípulo tem de tomar para segui-lo e sua opção pelos pobres e marginalizados, é realmente bem mais complicado.
É aí que muitos “teólogos” resolvem trocar os compêndios da fé pelos dividendos da mídia. É nessa hora que Barth, Bultmann, Tillich, Lutero, Calvino, Wesley (para não falar em Agostinho, Tomás de Aquino, etc) dão lugar a certos astros gospel de maior ou menor grandeza.
Os “teólogos” gospel que se fizeram bispos (sic!), profetas e até apóstolos (à revelia de qualquer convenção eclesial e gramatical) se mostram todos ansiosos em atender aos fiéis consumidores gospel com seus melhores produtos.
OS INTELECTUAIS MAUS COMUNICADORES E OS BONS COMUNICADORES MAUS INTELECTUAIS
Sejamos justos. Tecnicamente, eles são melhores comunicadores que os teólogos de verdade. Embora tenham péssimo conteúdo, têm a embalagem certa para o gosto médio da massa religiosa brasileira.
Por outro lado, para que serve um conteúdo de primeira linha numa embalagem
inaceitável? O grande desafio aos teólogos de verdade é conseguirem oferecer seu excelente conteúdo numa embalagem mais atrativa.
Se o público compra tanta coisa ruim pela embalagem, seria possível usá-la (a
embalagem) para “vender” coisa boa? Se o “meio é a mensagem”, não temos muitas opções. A ética não nos permitiria utilizar certas embalagens. Mas talvez haja uma faixa de tolerância e seja possível achar um meio para a mensagem e uma mensagem para o meio, que correspondam aos valores do Reino.
Se isso não for possível, é melhor aproveitar a Rádio Gospel e anunciar: “Vende-se biblioteca teológica de primeira mão (aceita-se violão como parte do pagamento).”

Publicado em Mosaico – Apoio Pastoral. São Bernardo do Campo: Faculdade
de Teologia da Igreja Metodista – Centro de Teologia e Filosofia da UMESP,
Ano V, no 4, Agosto /Setembro de 1997, p. 16.
Também disponível em:
http://www.metodistavilaisabel.org.br/artigosepublicacoes/descricaocoluna
s.asp?Numero=1798

Um comentário:

  1. REV Marcos legal seu blog ,mas essa cor verde,kkkkkkkkpadrão presba é logico.
    Parabens !!!!!

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